sexta-feira, 30 de julho de 2010

Fim

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O tempo passa, corre, cresce, aumenta
Desliza pelas mãos que não o agarram
E se perde entre os medos que esmagam
Os pensamentos e boas sensações
Que guardam muitas recordações
Mesmo que nada possam ter
Fiéis são e irão ser

Pensamentos que guardam momentos
E que na impossibilidade de os reviver
Ou na alegria de os esquecer
Se esquecem até os esquecimentos

Se passa ao lado se fecham olhos
Olhos que não querem acreditar
Miseráveis olhares de despertar
Acordar e finalmente ver
O podre pão deposto no chão
Que pisam pés de boa mente.

Imundo e apesar de imundo
É homem e humano aquele que é
Carne da carne que veio ao mundo
E caiu num fundo sem pé
E se segura agora numa esmola
Que o puxa sem corda donde desola

Olhem para trás e vejam bem
O que no passado ficou e agora vem
Buscar o que não se devia roubar

Olhem e interiorizem a vossa visão
E reparem onde estão agora os pés
Outrora acelerados agora à média rés

Mundo onde paras e porque rodas demais
Porque rodas demais e eu não acompanho
Nem desdenho por não teres pais
Talvez por isso rodes pelos demais

Tudo se constrói e o que se constrói
Mais tarde se mói quando não doa
Por fim se atire na lagoa
O pobre animal que daí foi roubado
Do nobre habitat de onde vinha fadado
Onde era amado e bem cuidado
Porque o fim não tem apenas letras
Tem um valor que assusta e que custa
Mais que dinheiro, aceitar a verdade
A realidade de quem somos e fomos
Não somos donos, apenas turistas
Que passam em vão e deixam pistas.

Sentido

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Como rodam os ponteiros do relógio
Leves e simples apontam o tempo
Que os puxa, que os empurra
Que os esmaga e que os esmurra
Nas paredes da caixa que é a vida

Pois o tempo sendo tempo tem tempo
E faz-me esperar, pela corrente que passa
Sem graça, mas que é forte e enfrenta a morte
Sem medo, mas com sorte segue a margem
Dignifica o tempo porque corre sem paragem

Não o perde porque simplesmente não pára
Assim como a vida que age como um rio
Onde, formado de água, pedras e margens
Tem corrente que não mente como a vida
E que não engana como uma partida

Como uma partida que não tem ida
Fica apenas a parte que sozinha fica
Sem sentido ou até com significado
Que indica, seu valor, ou fica calado
Digerindo todo esse rancor sem amor

Mas sem amor não vive o homem
Como pode então ser-se quem não se é
Vivendo de pé onde as plantas comem
E morrem sem sequer saber o que é amar
E tardar pelo que se tem de esperar

Porque sentido não é somente tê-lo
É sê-lo também, é ser o próprio valor
O próprio mistério que se procura
Ser o cemitério onde se enterram dúvidas
E imperam calúnias às suas súplicas

Até mesmo o que escrevo pode então
Nem ter o que procuro dizer ou transmitir
Mas não é por isso que tenho de mentir
Digo apenas o que sinto por ser sentido
E por ser compreendido com sua razão

Por vezes apenas compreendido por mim
Mas tem de ser assim, ser o que não parece
Ser a prece da invocação que nos aquece
As palavras aparentemente vazias de tudo
Que deixam um coração que mente… mudo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Espera

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Na esperança de momentos, viajo sem fim
Sensações e emoções que me deixam assim
Deliciado por experiências novas de prazer
Que invocam em mim actos que devo prender

Enlouqueço de tédio quando mergulho na insignificância
As coisas que me rodeiam deixam-me na ignorância
Por não saber porque a vida é assim e o ser humano precisa
De mudar para ser mudado numa mudança indecisa

E neste momento no local onde meu corpo ainda vive
Algo estranho, maduro e velho em mim sobrevive
Sinto a decadência da minha alma escura
Onde o sonho anteriormente proposto já não dura.

Palavras que se libertaram e agora insólito relembro
Como a água passa fria e gelada nos meses de Dezembro
Assim estão meus sonhos, frios e distantemente congelados
Á espera que alguém, que talvez não eu, os torne realizados.

E sempre aquele que nos dá a mão a retira mais tarde
Será bom ou mau, defeito ou qualidade de um olhar que arde
E que nos queima de esperança e nos afoga na saudade
Por dias passarem e o sonho permanecer na obscuridade.

E alimentamos, rezamos e esperamos que chegue a hora
A tão desejada hora da realização e satisfação que me adora,
Que me adora de longe, á distancia de um simples passo
Mas difícil de dar, pois é difícil andar onde já não há espaço.

Não há num quarto tão pequeno e frio, escuro e sem conforto
Onde nele sigo um sentimento a que fico atento, mas é torto
É torto mas é ele que sigo sem medo do que possa encontrar
Pois sinto, sei e digo que onde me encontro cá não quero estar

Fugir, não talvez, ou sim moderadamente, quando vejo simplesmente
Que neste desconforto onde vivo, e o vivo por não ser quente,
Eu não posso caminhar. Não posso ignorar a minha insatisfação
Por não conseguir, sozinho, atingir a total e viva realização

Porque é que quem do ouro nasce merece a luz do dia
Que não ilumina a flor que abre às escuras na noite fria
E que tem de fechar, por luz não ter para que possa viver
E crescer para que um dia seja vista e valorizada ser

Morrendo assim às claras do luar a linda e vistosa flor
Que, nascendo numa floresta densa e vazia nunca teve amor
E o calor de um olhar que a faria brilhar onde não passa vida
Onde por mais que brilhem nessa floresta, essa luz não tem saída.