quarta-feira, 10 de março de 2010

Prova

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Neste mundo temos obrigação
Neste estar temos um lugar
E nesta vida com profissão
Temos a emoção dos dias passar
Sem provas dar á sensação
Que nos prende no próprio pensar
Em receber certamente um presente
Ou desse mesmo ser ausente

Como hei-de eu provar o que sei?
Se o conhecimento, ele mesmo relativo
Obriga-me rever tudo em que pensei
Mudar o correcto por algum motivo
E sentir o erro que por ele dei
O ar de obediência que por ele cultivo
A semente que pelo vento espalhada
Acentua a ausência desta alma desterrada

Na hora da entrega tudo anseia
Revolve-se em mim todas as entranhas
O que em mim desespera e receia
Por vivências que ainda me são estranhas
Porque tudo é novo nesta vida meia
Que apesar de cheia de suas façanhas
Ainda me consegue surpreender
Ainda me consegue fazer temer

Palavras

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Sou aquilo em que me tornei
Orgulho não tenho mas sei
Que quando me invade a razão
Me desprego da agarrada emoção
E expulso as palavras que pensei

Palavras que de mim são oferecidas
Palavras que de mim não são entendidas
Fragmentos de coragem expostos
Pedaços de ideias na mesa dispostos
Ideias que no final são perdidas

Mas que estranha palavra foi a minha
Que me roubou a crença que tinha
E despejado fui eu num sujo mar
De pedras, que me obrigaram a aceitar
Toda a injúria que para mim vinha

Mas qual o mal será de quem
Que escolhe o lado de outro alguém
Que não o meu mas contra mim
Que não sou eu mas vivo assim
Perdido no ódio de quem não o tem

No fundo, esse outrem sabe o que quer
Ganhar fruto num abuso de aluguer
Fruto que por esse estará envenenado
E que a sua vida só terá acabado
Quando, para onde fugir, já não tiver

E quando imerge a voz da verdade
Afoga em mágoas toda essa maldade
Desconfianças se transformam em consentimento
Todo esse vexame em arrependimento
E as minhas esperanças num mar de saudade

Escolha

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Meu tempo morre e não me decido
Se não escolho, morro com ele
Engano-me para não me sentir perdido
Perco-me e sinto-me vencido
Pois certamente tenho medo dele

Fujo ás ideias que em mim passeiam
Disfarço os olhares que me enganaram
Sinto os outros que me odeiam
E penso nos meus passos que receiam
Por um destino que sonharam

Ser o que quero ou sonhar o que queria
Continuar assim não é meu desejo
Chegar ao fim e recordar o que faria
Se pudesse escolher naquele dia
Um futuro que antes não via e hoje vejo

Em mim vagueia a insegurança
A incerteza de que em buraco me meter
Respiro este ar que me tira a esperança
E a vida que a ele não alcança
Pois meu é e em nada está a morrer

Palavras e orações ouço eu
Concelhos me dão e decisões me esperam
E no fim será que o bem irá ser meu?
Será que os sonhos que a vontade me deu
Vão ter o que sempre me deram?

Submerso nestas aguas paradas
Ao pouco e pouco me afundo
Sinto as minhas palavras geladas
Vejo as minhas luzes apagadas
Sei, que tudo pode cair num segundo

Procura

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Na calada da noite sinto um cheiro
Um odor penetrável, arde-me os olhos de vingança
Percorro as ruas molhadas de luar
O calor inimigo de outrem me da esperança
Sede de a saciar, vontade de a matar
Meus passos descalços de bondade
Nus de boa vontade e cansados do tempo
Pisam as pedras da calçada sem culpa
Corrompem as ervas inocentes com sua maldade
Sei que estou certo, porque estás perto

E nada disto passa, nada disto afunda
Continuo assim, nesta noite que em mim fecunda

Mas na minha contínua perseguição
Procuro-lhe um romper de olhares
Busco perdido em tantos lugares
O que em mim desperta má sensação
Oh! casas que me olhais tristes
Não me podeis ajudar neste momento
Pergunto-vos o que quero e o que espero
Tenho vossos olhares como um vazio sentimento
Nada a mais que vós posso eu fazer
Pois sinto e ao mesmo tempo desminto
O que em mim sente, o que em mim está quente
Não aceito que esta cidade seja minha
Que esta cidade seja eu, que este frio seja meu
Que esta noite viva em mim
Que esta dor não chegue ao fim
Pois sinto e ao mesmo tempo desminto
Que a pessoa que eu procuro nesta noite…seja eu.

E nada disto passa, nada disto afunda
Continuo assim, nesta noite que em mim fecunda