segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Anjo

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Vê de longe o que eu faço
Sente e é parte de mim
Sente a pureza que a ele dou
Dando aos poucos cada passo
Pobre anjo que me adoptou.

Da-me a mão e hoje guia
Sendo a luz do meu caminho
Luz que sem ti apenas sou
Pedaço de uma noite fria
Pobre anjo que me adoptou!

Oh! Que seria de mim sem ti
Logo eu que nem andar sei
E a porta que abre já fechou
Que faço eu ainda aqui
Pobre anjo que me adoptou?

Longínquas nuvens, tuas casas
Mas como será viver aí,
Ideias a minha alma sonhou
De um dia voar nas tuas asas
Pobre anjo que me adoptou.

Saberás tu todo meu sofrimento
Senti-lo-ás vivo certamente,
Mostro-te quem mendigou
Nas praias do arrependimento
Pobre anjo que me adoptou!

Porque adoptas-te tamanha dor
Feito esse, sem necessidade
Acende a chama que se apagou
Do frio de viver sem amor
Pobre anjo que me adoptou!

domingo, 21 de novembro de 2010

Pobre

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Pobre criança que a inocência molha
Cavas a terra sem bem saber porquê
Cavas em busca da tua mesma sobrevivência
O solo que pisas ferozmente
E sentes sentidamente o sabor demente de se ser
Corpo feito máquina que trabalha para aquecer
Pobre criança que a inocência molha
Fazem-te maior que aquilo que sonhas
Sonhas porque a realidade é mesmo verdade
E a vida que levas sabe Deus
A vontade que elevas rezando aos céus
De fugir do mundo em que caíste sem escolha
Como cai no chão a verde folha

Trabalhas com a tua boca desconhecendo o sabor
Do que é o pão da tua subsistência
Do que é sentar á mesa de uma refeição
E escolher por tua mão o amargo alimento
Que agora cavas dolorosamente e com consciência
De que ele nunca poderás provar nem apreciar
Pobre criança que come do seu próprio descontentamento

Oh mãe que a pariste para que fosse escravo
Teu mesmo escravo e obediente servo
Tua cria que nunca fora quente senão fria
Sentindo apenas o calor do estalar do sol
Nas suas costas vergadas de trabalho e de dor
E no seu corpo que não sabe o que é carinho
Que não sabe o que é conforto nem sequer amor
Sabe apenas o que é fome e desassossego
Que sente nas noites ao relento imersas em desalento
Nas madrugadas sem luar, nos dias sem luz
Pobre criança que a inocência molha
Pobre infância roubada por quem te quis ter
A sofrer neste mundo a ser um ser imundo.

We

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Now we are sitting
Immersed in this landscape
Where the rocks hold my body
And my eyes your blue ribbon
Remember now of this season
The reason for everything that I lived

I feel cold on your side
I don’t understand this tide
The ocean never more wet my feet
The birds stopped of sing
I let now the past sit
In your memories of me
Leave on the rock, your ring
You are free to fly in your sky
Fly in search the happiness
Fly away little princess
I am the page turned of your book
I am a small part of your heart

The day dies and the moon shines
Without you I am my own night
I am a page without lines
I am the sun without light
I lived with you my faire tale,
Reads now in my heart… for sale.

sábado, 20 de novembro de 2010

Escuridão

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Opaca luz que me confunde
Mergulhado nela fico ela
À espera me deixo que não inunde
Sonhos meus com sua escuridão
Nem sei se sonhos ou só ilusão
Que me iludem a sonhar bem alto
Para doer mais a queda no chão
Para doer como se não sentisse
O que era sofrer por ver morrer
A voz que eu queria que se ouvisse

Serei eu aquilo que repudío?
Serei eu negra noite que me cega?
Sei que sou obscuro e até frio
Mas não é por isso que o sonho me nega
Ou que se escapa por entre os dedos
Quando apenas fujo aos meus medos
Não é crime aquilo que faço
É talvez sim aquilo que sou
Noite que possui o meu interior
Noite que em mim tudo mudou.

Engenho

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Linhas sem fim, por onde caminhas
Por vales, planícies e montanhas
Tuas viagens guiadamente sozinhas
Apreciando ao rio as suas margens
Paras quando mandam as paragens

Porque não sou eu tuas engrenagens
O teu engenho com as tuas capacidades
Porque vivo em constantes derrapagens
E não atravesso tamanhas cidades
Como tu o fazes com tantas facilidades

E corres e paras e atravessas
Obstáculos naturais que se apresentam
E tu os pecados a eles confessas
Como quando do bem se ausentam
Arrependidos seres que o mal tentam

Vida facil e tranquila tu levas
Guiado por outros fazes tua vida
A inveja a mim no alto elevas
Por escolhas não fazeres nessa corrida
Pelos vários caminhos sem saída.

domingo, 14 de novembro de 2010

Mar

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O que é sentir uma luta em vão?
O que é sentir tudo contra nós
Sentir que lutamos contra uma multidão
E olhando à nossa volta, estamos sós

Velejando no meio de uma tempestade
O vento empurrando-nos para trás
E a chuva roubando-nos a felicidade,
Inundados ficamos de histórias más

Afundamos nas nossas prórias ilusões
Mergulhando no desgosto e na tristeza
O tempo evapora e leva-nos a beleza
A beleza de utilizar os nossos corações
Para sonhar e com eles poder voar
Junto dos céus e longe deste mar

Mar este que nos rouba a vontade
E a esperança de um dia conseguir
Todas as nossas metas atingir,
Mar este que nos rouba a tranquilidade
E nos faz afundar nas suas águas
Repletos de dor, repletos de máguas.

Máscara

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Sou o reflexo distorcido
De um espelho transparente
Sou o puro sentimento
De uma alma que não sente

Mostro um ser desconhecido
A quem me vê fugazmente
Sinto ser o desalento
De uma imagem decadente

Eu mesmo me desconheço
Face oculta que me encobre
No entanto sinto o peso
De um nobre não ser nobre
E de um chão não coeso
Dura assim parte de mim
Longa dor que não tem fim

domingo, 7 de novembro de 2010

Barro

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Restam agora no mar dos meus pensamentos
Fluxos e repuxos de memórias que me fluem
Recordações, palavras ou mesmo sentimentos
Que na minha carne se escrevem
E que em mim se descrevem

Sou o que essas lembranças constróiem
Porque elas desenham o meu caminho
Sou o que elas em mim não corróiem
Restando apenas pedaços do que fui
Á tona do lago que me dilui

Cada vivência, cada passo e acontecimento
Trouxe-me até onde agora me apresento
Moldou-me em função de cada momento
E hoje apreciando minha paisagem
Confesso que sou mera passagem

Sinto e sei que sou o barro do tempo e da terra
Terra onde vivo que é o chão do meu andar
Desvia-me de onde a vida se encerra,
Tempo e terra que me têm
Em ti e sobre ti, eu estou bem.

sábado, 6 de novembro de 2010

Sombra

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Sombra que me percegues ao longo da vida
Tu que vais crescendo ao longo do dia
O sol se põe e a velhice aparece fingida
Como quem não se quer rir mais, como se ria
Sombra que és o passado que me é parte
Não te quero sendo medo que me percegue
Quero sim que faças de mim tua arte

Cada passo que pisa a terra que sigo
É teu obdiente acompanhante e seguidor
E cada memória que de mim revivo contigo
Tu és ela, parte do meu eu sem amor
Parte porque um todo é dificil de se ser
Porque a vida não é tão má como se vê
E só o é quando se desconhece o seu ver

Sombra, de ti ninguem se livra quando há sol
E quando não há só tu imperas este mundo
Nem mesmo teu efeito acaba chegando a cruz
Fazes questão de recordar tal passado imundo.
Para alguns és tudo enquanto o sol brilha
Seres que sem ti não eram mais que ninguéns
Os outros, coitados, contentam-se com sua partilha.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

diFama

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À saída da missa reúnem-se as viuvas
E num leque da sua má lingua disfrutam
Do prazer da trituração informal.
Não vivem a sua vida e a dos outros escutam
Pejurosos dilemas, entre si permutam
Como que achando ser nada de mal

De gente em gente salta a história,
Murmuro ingénuo e malicioso
Que a trepassa de setas de maldade.
Seu pensar infimamente rancoroso
Nega até ao homem mais poderoso
O poder da conquistada superioridade

Vivem assim as velhas do vexame
Vivem do sangue das suas facadas
Alimentando-se da alma dos outréns.
Queimam nas suas fogueiras louvadas
A imagem de quem as queria apagadas
Coitados dos queimados e dos reféns

Reféns das escrituras familiares
As recentes crias assim têm de escrever
Ou serem apenas escritas na sua matéria.
O testamento dos antepassados reviver
Sem culpa, infelizmente, isolam-se a prever
O destino herdado da sua própria miséria

Rótulos imediatos adquiridos à nascença
Fazem da nascente a já secada fonte
Ou fonte brava que sozinha foi parida
No longínquo amargo e espinhoso monte,
Rezam pais para que ao filho ninguém conte
A sua própria imagem por eles escondida

Malvada viuvêz que desenterras memórias
E descobres aos outros falsas lendas
Cravas mordazmente na carne dos inocentes
E abres no seu chão imaculadas fendas
Esburacado caminho a eles tu arrendas
E nem arrependimento por isso tu sentes

Pior que quem sozinho vive e o faz
É quem tem família e não se incomoda
Em degradar a fortuna dos que conhece
Fazendo de um ciclo destes uma roda
Fazendo bravia a vide sem sua poda
Na pequena aldeia onde tudo acontece.