sexta-feira, 5 de novembro de 2010

diFama

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À saída da missa reúnem-se as viuvas
E num leque da sua má lingua disfrutam
Do prazer da trituração informal.
Não vivem a sua vida e a dos outros escutam
Pejurosos dilemas, entre si permutam
Como que achando ser nada de mal

De gente em gente salta a história,
Murmuro ingénuo e malicioso
Que a trepassa de setas de maldade.
Seu pensar infimamente rancoroso
Nega até ao homem mais poderoso
O poder da conquistada superioridade

Vivem assim as velhas do vexame
Vivem do sangue das suas facadas
Alimentando-se da alma dos outréns.
Queimam nas suas fogueiras louvadas
A imagem de quem as queria apagadas
Coitados dos queimados e dos reféns

Reféns das escrituras familiares
As recentes crias assim têm de escrever
Ou serem apenas escritas na sua matéria.
O testamento dos antepassados reviver
Sem culpa, infelizmente, isolam-se a prever
O destino herdado da sua própria miséria

Rótulos imediatos adquiridos à nascença
Fazem da nascente a já secada fonte
Ou fonte brava que sozinha foi parida
No longínquo amargo e espinhoso monte,
Rezam pais para que ao filho ninguém conte
A sua própria imagem por eles escondida

Malvada viuvêz que desenterras memórias
E descobres aos outros falsas lendas
Cravas mordazmente na carne dos inocentes
E abres no seu chão imaculadas fendas
Esburacado caminho a eles tu arrendas
E nem arrependimento por isso tu sentes

Pior que quem sozinho vive e o faz
É quem tem família e não se incomoda
Em degradar a fortuna dos que conhece
Fazendo de um ciclo destes uma roda
Fazendo bravia a vide sem sua poda
Na pequena aldeia onde tudo acontece.

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