sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pensamentos

“Amor”
Tudo fala dele com dor
Como se de algo não se quer
Mas no fundo o que é o amor
Se a quem amar eu não tiver?

“Crianças”
Gestos de simplicidade
Olhos de bondade
Respiram do ar da ingenuidade
A felicidade que é amar
E será que sabem o que é?
Ou apenas por instinto
Sentem o que agora sinto
Ao escrever para vós
Crianças que nunca vivem sós.

“Alma”
Parte de mim que flutua
Serei eu ou o que penso ser?
Será a casa ou mesmo a rua
Que deixa nua a dor de ter
Pensamentos de incerteza
Sem momentos de clareza.

“Poemas”
Mero jogo de palavras perdidas
Que sem querer por mim são vendidas
A um lápis ingénuo que caminha
Sem saber porquê na sua linha
Puxando assim do fundo poço
Os leves traços do meu esboço.

“Diário”
Meu bom diário
Em ti adormecem as minhas palavras
Entre portas, que espero, tu não abras
Apenas eu sei o que aí mora
E o desvendarei na certa hora.

“Sonhos”
Deitam-se as esperanças
Nas nuvens dos meus pensamentos
Lindos são quando em crianças
Vida nos dão em certos momentos
E para que não morram numa praia de recordações
Vamos alimenta-los bem nos nossos corações.

“Crepúsculo”
As luzes se apagam
A noite se abate sobre mim
A escuridão é mesmo assim
Os olhos fecham
A solidão me invade
Sem qualquer piedade
Fico perdido
Não sei o que fazer
O dia nasce esquecido
E a noite chega sem anoitecer.

“Animal”
Pobre animal que pisas com teus pés
Essa erva onde a tua ignorância não te enerva
Será que sabes o que és?
Será que sabes que mentes
Quando não dizes a verdade?
Ou talvez apenas por maldade
Negas a lealdade aos teus parentes?
Nada disto sei, não confirmo
E tudo o que pensei, não tarda em consumir-mo
A impossibilidade de ser tal como esse animal.

“Impulso”
Pela fé no inesperado
Acredita o homem no incerto
Mas contem-se em estar parado
E de longe mantém-se perto
Da calma que o segura
No lugar onde sua alma é pura.

“Inteligência”
No fundo a capacidade de ver
Não apenas de olhar, mas de perceber
Captar o que nos é visível
E poder acreditar que é possível
Ter a capacidade de se ser capaz
E desfrutar da alegria que nos trás.

“Tempo”
O dia cai e a noite recebo
A luz morre e o que hoje foi amado
É já passado nas palavras que escrevo
Baseadas num sentimento enterrado
Mas que do qual nada foi apagado
E ao dizê-lo sinto que faço o que devo.

“Retrato”
Figura estagnada que observa
De olhos fixos e mortos escuta
As vozes silenciosas que em si reserva
Ressuscitadas do pó de uma vida
E que ainda não encontraram saída
Depois de uma longa e demorada corrida.

“Pobreza”
Ser pobre é ser triste
É não ter felicidade
É poder aceitar a liberdade
Que o não ter lhe permite
E nega-la por maldade
E pelo orgulho que transmite
A troca do que se mais quisera
Por aquilo que sempre se tivera
Ser pobre não é não ser rico
É não querer a verdadeira riqueza
E pureza de quando se atinge o pico
O pico da montanha que somos nós
Logo então caímos e ficamos sós.
Ser pobre é ser “vazio”.

“Corpo”
De carne sã meu corpo se forma
E de uma alma podre ele é dono
Entristece saber que se torna
Em algo que adormece no seu próprio sono
Para tentar não mais sentir
O que lhe pesa e faz dormir.

“Lágrimas”
Doces gotas de água salgada
Lavam a cara com um simples beijo
E assim se expulsa a dor guardada
Nos cofres do fundo mar que eu não vejo
Vindo á superfície toda a amargura
Do mal, no passado feito, que ainda dura
E perdura na nossa lembrança
Ameaçando tirar-nos a esperança.

“Sobrevivência”
Aqui me sento e me flui o pensar
Em toda a vida que me rodeia
Em todo ser que até a memória me faz faltar
Uma mera rede, uma simples teia
Finas linhas que se encontram
E lutas pela sobrevivência demonstram
Mas tudo teme, tudo espera, tudo receia.

“Rochedo”
Subo a um rochedo naquele monte
Sento-me sentindo o vento bater-me
E a arrefecer-me todo o meu corpo
E a minha alma arrefecendo o ar
Me deixo a pensar em como conter-me
Desta angústia que me aperta o coração
Parando o sangue que corre sem emoção.

“Mar”
Águas profundas
Águas sem fim
Mar que me abundas
E me deixas assim
Inundado de tristeza
E sem qualquer riqueza
Onde me possa agarrar
Neste infinito mar.

“Chuva”
Choro do dia
Em que lágrimas caía
Gotas sós e acompanhadas
Luzes pálidas e apagadas
Com baixo olhar nos olhas
E com poder nos molhas
Chove para eu sentir
O destino que há-de vir.

“Solidão”
Os dias passam e sozinho espero
Pela hora que vem e eu não quero
Um só, em meu lugar vive
E em sonho acompanhado estive
Pior que estar sozinho
É ser um, um apenas
Sem encosto nem carinho
Um teatro sem cenas
Um vazio sem amor
E repleto de eterna dor
A dor da solidão
A que todos dizem não.

“Desprezo”
Olhares de insignificância
Andares sem importância
Uma voz de desprezo
Uma presença sem peso
Assim vives tu ninguém
Abaixo daqueles que tem
O poder de te pisar
E o dever de parar
Com toda essa demonstração
De grandeza e frustração.

“Grande”
O que é ser grande?
Ser maior? Ser alguém?
Ou talvez aquele que anda
Onde não anda ninguém?
É ser diferente, não ser vulgar
Seguir em frente, não recuar
Ao passado que não tem
Alma para o amar.

“Mendigo”
Velho da rua
Onde jaz alma sua
Sem vida vive quase
Á espera que passe esta fase
Onde o frio o gela
E a calçada lhe dói
E na solidão, mergulhado nela
Dor maior que te corrói.

“Inveja”
Olham-nos de cima abaixo
Aqueles olhos esfaqueantes
Sentimentos que eu não encaixo
Sensações sufocantes
Olhar de sangue e raiva
Espera que o vizinho não saiba
Onde seu ódio ele esconde
Que nem ele mesmo sabe onde
Pois corre-lhe nas veias
Onde de mal elas estão cheias
Mas nada se esquece, nada se perde
E espero que enquanto seu corpo apodrece
Maldade, ele não mais herde.

“Velhice”
Rugas lhe cobrem o rosto
Peso da idade, peso do desgosto
Anos se acumulam numa caixa aberta
Repleta e a mesmo tempo deserta,
Histórias para contar, contos para esconder
Noites sem luar, dias a chover
A luz está mais longe que a escuridão
Pois para lá, passos caminham sem emoção
Outros com aceleração e cansados de sofrer.
Mas noites sem luar e dias a chover sempre haverá
Para quê resistir? Nada cá ficará.

“Resignação”
Resignamo-nos ao que vimos
Aceitamos o que sentimos
E pensamos, para quê mudar?
Para quê ser melhor?
Não vale de nada esperar
Não vale de nada saber de cor
As leis da vida para se Ser
E no fim continuar a temer
Pelo que vem depois da mudança
E que a prende e não avança.

“Medo”
Ter medo do que se vê
Ter do que não se pode ver
Temer por aquilo que nos faz sofrer
E fugimos, escondemos
Caímos e percebemos
Que o medo é não estar preparado
Para ver o que nos tem esperado.

“Destino”
Acreditar que estão escritos
Os passos que darás na vida
É como ignorar os gritos
Da voz que te levará á saída
Da escuridão que te mergulha
Na emoção que não te orgulha,
E ficas preso e envelhecido
Nesse teu destino esquecido.

“Vergonha”
Sentimento que impede
A acção que a ele procede,
Um sentir indesejado
Um gesto inacabado de confiança
Onde se deposita toda esperança
De tentar e conseguir,
E o medo da mudança
Por errar e cair.

“Morte”
Um ponto final, um fim
E toda a vida acaba assim
Chega sem aviso
E não diz o que é preciso
Para levar mais um olhar
E ao dono tirar o ar,
Presença mais presente na vida
Morte mais viva que a sorte
Logo nascidos começamos a corrida
Oposta á porta mais temida
E de nada vale chorar
Pois este é “apenas” o nosso terminar.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

TU

.
Meus olhos brilham de sede cheios
Por uns simples reflexos teus
Que se escapam entre opacos e feios
Muros de estorvo que são meus
Mas sinto a tua presença e sei onde estás
No meu coração moras e nele viverás

Calor que me aquece o interior
Seca a água fria que em mim cai
Cura a dor de ser inferior
E me dá a alegria que agora vai
Deixar a tua luz brilhar
Brilhar para me acalmar

Sentir o teu corpo, o teu perfume
Desejo meu que me inunda.
Será tua, vontade que me assume
Ser a pessoa que por ti se afunda
Nas leves pétalas da tua flor
Flor que vive do meu calor?

E neste sonho, lugar onde vivo
Será real toda a brisa que sinto
Morna e carinhosa que por certo motivo
Trespassa o quadro que então pinto
Será que minto ou apenas sei
Que tu apareces-te e eu mudei?

Adoece minha alma de tua ausência
E espaça o sangue contínuo que em mim corre
Dorme agora a lembrança da tua vivência
Num canto doce da minha voz que sem ti morre
Por força já não mais ter para deixar fluir
Belas orações que a ti, espero, bem façam sentir

Mas no final, inicio irá ter
Uma recompensa por toda a minha crença
Que neste tempo sem ti me ajudou a viver
Na saudade do tempo perdido que pensa
Na pureza do meu olhar nu
Na simplicidade do ser que és tu!