domingo, 27 de março de 2011

Esquecido

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É como se de repente fosse esquecido por todos
E a importância, de mim, passasse ao lado
Se calhar misturado em diferentes ,ser diferente
É vulgarizar a própria diferença já carente
De um olhar mais especial, único e focado
No brilho que ela exalta bem lá do seu fundo
Desse seu frágil fraco e pequeno mundo
Perdido num universo, de variedade inchado;

Sinto-me realmente por vezes um grão na praia
Sinto-me ser a transparência de um olhar perplexo
Que ao focar vazio nenhum sentimento se impõe
Sinto-me como se do nada fosse seu reflexo
Como se de certa forma eu não tivesse forma
E nem me importasse sequer em cumprir a norma
Da opaca matéria de que é feito um ser complexo;

Agora espero sentado na frieza e rigidez da pedra
Coberto pelo conforto e sossego da escuridão
Espero pela luz que me abrirá as portas
E me livrará das imundas esperanças mortas
Que com elas me fizeram apodrecer na desilusão
E confusão de um destino trôpego e incerto
Incerto na sorte mas previsivelmente aberto
Ao desperdício da bondade de um bom coração.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Porto

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Porto, cidade que me acolheu
Desde sempre eu fui teu
Agora aqui e em ti escrevo
Palavras que só de ti nasceram
Mas que nunca se esqueceram
Pois muitas delas a ti as devo;

Não chegam estas para dizer
O quão tenho a agradecer
Pelas paisagens gloriosas
E um quotidiano bem vivo
Que também serve de incentivo
Ás mudas vozes rancorosas;

D’ouro esse que te atravessa
Correndo ele bem depressa,
Fugindo das tuas encostas
E descobrindo os teus segredos
Escondidos entre os rochedos
Nem p’ra eles tenho respostas;

Porto que nasceste do mar
Ele ainda te faz sonhar
Belos tempos já passados
Bem repletos de mercado
Que apesar de atenuado
Lá vêm eles além salgados;

A mim não chega essa palavra
(terra dura que não lavra)
Nunca deixaste ficar morto
Este nome que me encanta
Esta cidade que me espanta
A capital que é o porto!

Será Sorte?

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Gostava de acreditar que fosse verdade
E que tudo aquilo que me julgavam ser, realidade,
Mas não evito a propria opinião equacionar
Com as negações que só me provam o contrário
Ou até mesmo depois de todas a peças juntar
Acreditar que não há entre elas o solitário
O mísero e abandonado poder da mentira
Esquecido nos suburbios que ninguém me tira;

Não deve certamente passar de vulgar sorte
Que na espreita da ideia de que tudo eu suporto
Gruda-se no pensamento como se não tivesse medo
Fazendo-me acreditar que é na próxima que vou errar
E me vou deixar levar por um disfarçado enredo
De uma reles peça que eu não vivo para encenar
Não, porque quero-me despregar desse pensamento
Que nada mais me traz que desespero e sofrimento;

E o que me resta? Sei lá eu já o que me resta
Nesta abominavel alma que simplesmente não presta
Uma desconfiança mutua entre mim e essa cela
Em que me prendo sempre que uma prova se avizinha
E faz-me ferver a febril fantasia fria, futil e fatela
Que infelizmente por assim ser me desencaminha
E leva-me de encontro ao meu interior abismo
Não é descomunal, mas com isso eu sempre sismo.

Primavera

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O que terá de tão especial, para nascer tudo nela
Nascem os galhos, as flores, nascem os frutos
Fazendo de cada árvore uma linda Cinderela
Mas que bela, só de a imaginar
Extrema frescura que me faz suspirar!

Oh, pássaros que já não me lembrava vosso chilreio
Voltais agora como se fosse este vosso verdadeiro lar
De onde de vós, garanto, nunca ele ficará cheio,
Venham, façam de mim uma planta
E do meu ar o vosso céu que encanta;

E se eu fosse parte de vós, ou como vós quem me dera
Ser o tronco da árvore ou mesmo a flor que germina
Oh, quem me dera que vivesse em mim esta Primavera
Pois não passo de um outono decadente
Numa época teimosa e persistente;

E esse raio de luz que não mais chega cortando o tédio
E matando a penumbra em que hoje eu me alojo,
E a lua luminosamente fraca que não passa de um assédio
Um ilusório cenário que sempre estivera
Todo este tempo submerso sem primavera.

De Conto em Conto

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De conto em conto se prolonga
A mais simples história que ouvi
Já não é mais o que nascera
Mas no entanto aquiesci
Julgava eu inocentemente
Ser uma história de má gente;

Mas a má língua a distorceu
Passando pelas silvas do povo
Triste imagem já degradada
Fado morto apesar de novo
Nem sequer eu, pensava vir
De com isto um dia, consentir;

São vozes que a mudez não ouve
Repletas de escárnio e mal dizer
Jubilam pelo mal dos outros
De curiosidade estão a morrer
Porque não se enfiam num buraco
Ou tapam a cara com um saco!

Ai, que asco, mas que repúdio
Que exaltação medonha
Porque não ganham um bocado
Um bocadinho só de vergonha?
Pois isso vós não conheceis
E sereis sempre ao mal, fiéis.

"Eu só queria ser feliz"

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Efémera mocidade
Que invoca uma necessidade
Intrinsecamente explosiva
E quem sabe corrosiva
Esperemos que não se prenda
Nas teias de uma guarda
Que não quero que se ofenda;

Quem sou eu para os julgar
Para sempre nos vão guardar
Continuamos filhos depois de pais
E para eles sempre iguais
É um sentimento protector
Um aperto inexplicável
Tudo não passa de amor;

E lá vai o verde e jovem ser
Seus pais de medo a tremer
De avisos se vai cheio
Com tormentos de receio
Mas tudo se envelhece
E pequenos não perduramos
(pobre mãe que não se esquece)

É quase dia quando vem
Sozinho, mas com alguém
Numa curva se adivinhava
Já o mal que se esperava,
A mãe saltando do berço
Com uma fina pontada
Cai-lhe das mãos o terço;

Uma dor sufocante
Quase que delirante
Pobre filho, pois ele sabia
Tudo o que a mãe lhe dizia
De nada lhe valeu rezar
Tanta súplica, tanta prece
E só lhe resta agora chorar;

“Desculpa por não te ouvir
Mãe que sempre vi sorrir
Custa-me tanto o Adeus
Mas ver-te-ei lá dos céus,
Perdoa-me as asneiras que fiz
Não foi por mal, acredita…
Eu só queria ser feliz!”

Foi nesse dia de inverno
A partir de agora eterno
Que entendeu aquela voz
Dos pais que deixou sós.
A mão da mãe por fim largou
E deixando fugir uma lágrima
A luz dos seus olhos se apagou…

sábado, 12 de março de 2011

Desesperada Esperança

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Como é difícil acreditar num infinito
No fim de um infinito sem sequer um começo
Que nem mesmo com a maior força que conheço
Serei ou serás tu capaz de um dia decifrar
Nas cartas de uma vida, sem segredos a desvendar,
O código da cura que da sua razão me esqueço;

Não é, de todo, um fim inesperado
Pois nada em que acredito simplesmente se resolve,
Nada se faz ou acontece sem o mal que envolve
Toda a corrente de um rio que corre quase morto
E do sol que nele se espelha lúgubre e absorto
Negar a ele mesmo que a descrença lá se dissolve;

Ás vezes questiono-me, para quê tanto esforço?
Por mais que seja uma causa mais que perdida
Mais não é que mais uma causa na nossa vida
Pela qual quase involuntariamente se luta
Talvez porque a voz do inconsciente se escuta
E não nos deixa nada mais que só essa saída

Uma saída para o sossego de uma alma
Um conforto por ser cumprido um próprio dever
Até quando esse fim chegar por nada se poder fazer,
É inevitável o choro e a dor pela incapacidade
Resta-nos somente afogar numa vil infelicidade
As certezas de um término – um triste perecer;

Promessa atrás de promessa e para quê?
Outra e não mais que simplesmente mais uma,
Espera-se, que por entre tantas, não se suma.
Se invocará alguma mudança, não serei, pois eu
Que desvendará as lacunas do misterioso céu
Que se esboça no mar e é apagado pela espuma;

Não desistas pobre ser que agora rezas
Pode ser, que ainda perdida, essa alma não esteja
E que “alguém” do bem a tua luta, como uma, a veja
E atenda à tua prece por uma súbita mudança
Que quanto mais se demora mais te rouba esperança
Acreditamos juntos, que mal, a ti ninguém deseja;

Mas acontece e há sempre um escolhido
Porquê eu, tu ou ele? Puro azar de um destino
Que não nos escreve as palavras de um hino
E nos deixou os restos de uma feia canção
Escrita na pressa de um tempo sem recordação
Pobre vida segura agora por um frágil fio fino.

Pe(r)dido

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Recordo agora enquanto escrevo
Momentos que o esquecimento não me levou
Memórias que ainda exaltam tenra idade
Uma experiência que em mim muito mudou,
Não espero mais que continuar esperando
Cuidando dos caminhos por onde eu ando,
E ao sonhar os dias desse outro lado
Fico, de certa forma inútil, entusiasmado;

Imagino ainda só, o que lá me espera
Serei eu também capaz de o fazer?
Hierarquias esperam-se, ser respeitadas
Mas também aqui estou para obedecer,
Nada mais isto é, ou sou, que nada
Uma mísera palavra que por mim invocada
Espera fazer, bem lá no fundo, alguém
Sentir-se mais do que apenas… ninguém;

Também agora me aguarda uma tarefa
Mergulhado em hipóteses e só uma escolher
Não direi que me foi, talvez difícil
Pois de tantas, poucas mais poderiam ser,
Também não escolho com intenção de ajuda
Nem fico à espera que em momentos me acuda
Quero apenas que em boa hora me surpreenda
Assim como em má hora, me repreenda;

Por fim, não mais que esperança me resta
E embora os olhares aqui se me apontaram,
Onde outrora morara uma lívida duvida
Mora hoje o que as certezas enfeitiçaram,
Não sei se será ou não, o melhor para mim
Mas não quero mais que somente um sim
Espero então que a vida um dia me traga
Um episódio feliz nesta dolorosa saga.