sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Luz

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A luz que de mim vês é artificial
A luz que emitia não é mais igual
A força que em mim existia acabou
A energia que de mim fluía se apagou

Sou um todo oco por mim a dentro
Sinto o escuro em mim e nele eu entro
Aconchego-me às paredes que não vejo
Sinto o frio delas e o calor despejo

Meu corpo gelado cai no chão
Fico sem apoio e ninguém me dá a mão
Se me dão então não sou capaz de a ver
Está escuro de mais para ajudado eu ser

Pela fechadura sinto uma luz iluminar-me a cara
Sinto o seu calor aquecer-me a alma
Essa saída, símbolo de esperança ma dá calma
Meu sangue começa a correr e eu volto a viver

Corro nessa direcção e me perco no caminho
Eram apenas dois passos mas no entanto volto a ficar sozinho
Perco a luz de vista e sinto-me perdido
E envolto no silêncio de mim sinto-me esquecido

Esquecido de mim próprio me faço lembrar
O quanto, estar sozinho, me provoca o pensar
Pensar nos olhares que me fazem fugir
Pensar no mal que eles me fazem sentir

Continuo no canto, sei onde estou
A luz que me guiava lá fora ficou
Tenho medo de tentar e voltar a falhar
E eu sem saber o caminho volto a errar

Mas num último suspiro dos meus pulmões
E tremendo pelo latejar das emoções
Avançam cautelosamente meus passos
Pelos sentimentos seguros que em mim são escassos

Avisto a luz e ela outra vez eu sigo
Inserto do que verei vou seguro comigo
Ouço o calor que dela imana e sei que é possível
Um sonho que até aqui escondido agora é visível

Sinto-me leve e ao mesmo tempo sujo
Mas desta tranquilidade eu nunca mais fujo
Agora sou livre e capaz de voar
Voar nos sonhos e por fim… acordar…

Medos

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Está de noite e não sei onde as estrelas estão
Sozinho me deixo ficar nesta escuridão
Sinto a brisa regelar-me os dedos
Sinto-me a mim a fugir dos medos

Não devia fugir, eu sei
Tinha que os combater, tentei
Lutei contra eles, perdi
E com eles em mim, fugi

Para sempre em mim vão viver
E eu com eles irei crescer
Mas sei que um dia vou chorar
Por muitos medos não ultrapassar

E tu que lês o que escrevo, medo não sentes?
Se pensas que não, então sei que mentes
Para quê julgares-te forte e não confessares
Que medos sentes por não lutares

Mas só tu podes conseguir
Um dia vir a sentir
Liberdade e tranquilidade
Por nunca teres, de a ti próprio, mentir

Ser sincero é ser como eu quero
Ser feliz e ser o que sempre quis
Pois por isso ainda espero
Porque pouco de bom até agora fiz

E por isso te digo, medo,
Que ainda é muito cedo
Para me impedires de fazer
Aquilo que me dá vontade de viver

Paisagem

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Meu olhar avista esta paisagem luminosa
Pacata, simples mas muito vistosa
Eu aqui sou apenas uma parte dela
Livre me sinto preso numa cela
Cela que sou eu e não ela

Este sol que rasga as nuvens e esfaqueia-me a cara
Com sua luz tímida de madrugada levanta a seara
Eu no meio de vida me sinto sem ela
E envolto num mar de ar não consigo respirar

Meus passos vivos de tristeza numa noite de luar
Pisam as folhas no chão que caem mortas do ar
Oh tempo que corres sem parar e vida que passas sem correr
No espaço de um olhar…estou aqui…estou a morrer

Chuva que me cais sobre os ombros
Assenta a poeira dos meus escombros
Dá vida a esta alma perdida
Dá cor a quem ficou sem amor
Dá carinho a quem se perdeu no caminho

E tu vento que arrancas as folhas das árvores
Espero que as colhas do chão
Mortas estão e tudo acabou
E eu sem coração morto estou
Dás-me a mão e com as folhas me levas
Desta noite que para mim são trevas

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Mãe (soneto)

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Mãe que me deste vida
Me mostras-te a luz da saída
Mãe, que me deste luz
Desvendas-te a tua cruz

Filho que te da dor e alegria
Dor que sentes e eu sentia
Curaste-ma e ficas-te com ela
Sentiste-a e livraste-te dela

De tão longe vivemos perto
E de uma coisa eu estou certo
Tenho uma mãe de mar e de deserto

Símbolo és de razão
Sei lá eu, mas dizes que não
Mesmo assim te peço perdão

Mãe

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Desculpe por não a perceber
Esforço-me para a entender
Canso-me de explicar
E arrependo-me de me zangar
E se mal a faço sentir
Estou aqui para lhe pedir
Perdão e compreensão
Pois sei que não vai dizer que não
Mãe a quem devo respeito
Guardo-a no meu peito
A única que me tira da solidão
A única luz nesta escuridão
Só de si posso eu esperar
Uma presença de acalmar
Um conforto e carinho
Neste meu longo caminho
Que terei de percorrer
Mas sabendo que não sozinho
Vou conseguir chegar e vencer
Temer, hesitar, errar, cair, mas crescer
Assim me ensina sem perceber
Esta mãe que viu nascer
Um filho cansado de sofrer
Mas que dela, só amor pode receber

Pai (soneto)

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Pai que agora me olhas
De tuas lágrimas me molhas
Pois meu corpo não só vês
Como uma alma de malvadez

De mau, fama tenho tua
E aceito esta verdade nua
Pois não só defeito de ti ganhei
Como de ti um homem formei

Homem ainda não, mas será
Com muita a ajuda que de ti terá
Um dia, feliz viverá

Pai, tu que me estás a ver
Nunca mais me vou esquecer
Que contigo foi bom viver

Pai

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Pai que cá pouco tempo esteve
Mas que muito obteve
Foi mas deixou a sua imagem
De força trabalho e coragem
A seus filhos incluindo eu
Deixou um tesouro que é meu
Não só meu mas de todos
Não de todos mas seu
Mulher triste você largou
Lugar feliz para onde viajou
Uma família deixou formada
Triste estou por não muito ligada
Um aqui outro ali assim ficamos
De solidão em solidão assim estamos
Pois alguém que quem muito queremos
Está em cada um de nós
E não nos deixa totalmente sós
De sua carne nos formamos
E como irmãos nos amamos
Esperamos que a dor se apague
E nossos corações não mais esmague
Esta ausência tão presente
De sua presença tão ausente

Alma

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Num momento estou feliz
No outro não sei o que isso é
Estou infeliz? Não sei se estou
Só sei que o sorriso acabou
E a infelicidade a alegria levou

A luz se apaga de mim
Meus olhos se fecham
O dia se acaba, meu corpo cai
Me questiono se será o fim
Ou apenas mais uma noite

Em um segundo me distraio
E em outro eu caio
Levantar-me não consigo
Não por ser pesado mas um fracassado
E fico deitado sozinho comigo

Segredo que conto a mim próprio
Segredo de vida e de destino
Tão segredo que nem eu o sei
Já tentei e não adivinhei
Não consigo e desatino

Talvez não seja para adivinhar
Mas sim lutar e descobrir
Vou deixar o tempo passar
E quando chegar o momento de ir
O encontrarei e o desvendarei

Sou vivo hoje e espero que amanhã
Isso já não sei mas já o descobrirei
Luto e tento que isso aconteça
E que a minha vida não se desvaneça
Pois basta um suspiro e eu morrerei

Meu ar é levado pelo vento
E com ele vai meu olhar
Meu ver e meu sentir
Lá ao fundo vejo uma porta a abrir
E por lá, finalmente, vou sair

Fugir deste mundo, o meu maior desejo
Mas ao mesmo tempo maior receio
Aquilo que há anos espero e anseio
Limpar-me da sujidade deste mundo
Este mundo imundo e desalheio

Mundo este que sujou minha alma
Estraga e desgraça meu coração
Me rouba a emoção dos dias
Em fatias corta a minha alegria
E me larga neste mar de tentação

Fogueira que arde de desgraça
De tristezas e desilusões
Choros de multidões
O fogo da vida que se apaga
Levando a alma com toda a calma

Não posso pedir ajuda
Não posso exigir que alguém me acuda
Pois só eu sei deste sentimento
Devo ainda estar em descobrimento
E vou encontrar-me a qualquer momento

Dá-me a mão e ajuda-me
Tira-me deste buraco profundo
Fundo e escuro de maldade
Que me impede de ver a felicidade
E a luz da tua bondade

Luz que me indica o caminho
Tento evitar, mas fecho os olhos
E sigo essa estrada sozinho
E na primeira curva me deixo cair
Numa escuridão que me impede de sair

Grito o mais alto e não sai som
Desisto e paro de gritar
Pois ninguém me virá ajudar
Ficarei para sempre esquecido
E quem sabe, também desiludido

Mas eu sei que um dia
Vai-me tirar a cadeira e vou cair
Vai-me tirar a cama e eu vou cair
E no fim vai-me tirar a alma
E eu cairei pela última vez

Receio

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Tenho medo de falhar, Receio de errar
O que me faz duvidar se consigo
O que me faz pensar se sou capaz
Pensamentos que me fazem parar
E não me deixam ter paz

Tento esconder-me, mas perseguem-me
Não me largam e eu desespero
Não quero ser assim mas tem de ser
Tento fugir, mas prendem-me
Vontades que sou obrigado a ter

O meu próprio ser não quer ser
Sinto mas não quero sentir
Porque é que tem de ser assim?
Com isso só tenho a perder
Por favor saiam de mim!

Pensam mal do meu ser mas não de mim
Mas isso só eu sei, infelizmente
Não me identifico com ele, não sou eu
Espero e desespero pelo fim
Não quero mas esse fim vai ser meu

Nada

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Penso o que não devo
Sou o que não quero
Faço o que quero mas não devo
Não faço e desespero.

Não digo o que penso
E tento ser o que não sou
Não consigo e desisto
E por fim tudo acabou.

Palavras que saem da minha boca
Serão truques? Sentimentos?
E porque não momentos?
Apenas espinhas de uma alma oca.

Me questiono se sou grande
Meu corpo sim, eu não
Por aí, grandes, quem são?
E eu respondo, quem tem coração.

Me sirvo do meu corpo, com um fim
De me materializar e realizar
Um sonho de pequeno quando era nada
Triste, pois ainda nada sou neste meu estar.

Me vez? Não, vez meu objecto
Objecto de carne e de olhar
Carne que um dia apodrecerá
Olhar esse que um dia se apagará.

Do nada vim, para o nada vou
Nada fui e nada sou
Se serei?… não sei
Apenas sei que ainda não acabou.

Completo por um vazio de crueldade
Feito e largado por minha alma
Assim fico eu neste mundo de maldade
Me transformando num pedaço de humanidade.

Meu sangue amargo de vontade
Abandonado de qualquer bondade
Corre e transporta a minha vida
Através de uma ponte já caída.

Talvez eu esteja só arrependido
Por não ser alguém que gostava de ter sido
Ou talvez esteja apenas perdido
E envolto numa vida sem sentido.

Esta mente de problemas
Que me escapa entre os dedos
Conduz-me através de esquemas
Ao longo de uma estrada de medos.

Tento não querer o mal
Disfarço mas não deixo de o sentir
Maligno e cruel sentimento
E que o arrependimento me dá a descobrir.

Sozinho e recostado me ponho a pensar
Lembrar, recordar e por fim chorar
Lágrimas não dos olhos mas da alma
Alma não feliz mas a tentar.

Minha imagem quem a vê?
Nem o próprio espelho a sente
Nem a própria sombra a segue
E nem ela própria o desmente.

Existe um dia para começar e outro para acabar
Uma hora para sorrir e outra para chorar
Um minuto para construir e outro para desabar
Mas apenas um segundo para tudo mudar.

Ela

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Conjuga-se em versos
Desconhecem-se os sujeitos
Perde-se nos tempos conhecendo
O passado e a certeza do futuro
E num pouco de gerúndio
Tudo vai acontecendo

Não a queria conhecer, mas sou obrigado
Morre de amores por mim, não me conhece,
Sou vítima e sou fã de perdição
Vista pelos outros desperta emoção
E por mim…. Me para o coração

ELA, malvada e sem remorso
Teimosa e sem piedade
Tenebrosa na sua obscuridade
Não se lhe vê boca não se lhe vê olhos
Mas vê e come sem que ninguém lhe diga nada

ELA, tem sede do meu sangue
Tem fome da minha carne
Vai sugando a minha alma
Aos poucos e poucos com a sua calma

Espera, mas acaba com o que me faz ver
Com o que me faz ouvir,
Com o que me faz sentir
Aquilo que de repente pode sucumbir
Pois num simples suspiro, põe tudo a perder

A escuridão, sua mascote de apoio
Ela própria assusta mais que o pensar NELA
O seu negro mais escuro que qualquer outro
Que cega o cego e não deixa ver quem quer
Prende quem está preso, numa pequena cela

Mal de quem a viu passar por alguém
Pior que o próprio alguém que não a viu
Sem tempo de pensar ou reagir
Ela chega sem pedir e saiu,
Pronta para outro pedaço de vida

Come e desgraça para se sacear,
Bebe do copo de quem não quer
Senta-se á mesa de quem não a convidou
Deita-se na cama de quem não a chamou
Roubando o ar de quem o queria respirar.