domingo, 24 de janeiro de 2010

Avô

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Avô que te aqueces agora na lareira
Aqueces esse corpo esquecido de idade
Vejo nesse olhar o ruído da saudade
Dos filhos que te faltam aqui á tua beira
Filhos e netos de quem já nem lembras o nome
A idade leva-te já, as ideias que o tempo come
E em silêncio gritas a pedir o teu perdão
Porque já não mais aguentas esta era de solidão
Era que te sinaliza o final dos tempos
E sentes a vida a escapar-te entre os dedos
Já não vale mais as “árvores” e os “rochedos”
Para te esconderes da tão indesejada hora
Que ainda distante, espero, mas que te mata agora
Avô que me molhas com o teu olhar triste
E que os tempos levaram a saúde que a vida te deu
Teu corpo agora verga mas de lutar não desiste
Molhas, de lágrimas estas “terras”, terras onde nunca choveu
Nunca choveu nem sequer o sol apareceu
Deste jeito vida cá não há nem pode haver
Pois nenhuma “planta” cresce sem água poder beber
Sentes o teu corpo aos poucos arrefecer
Por mais que te aqueças, essa chama não consegue evitar
O que os anos levaram e para trás deixaram ficar
Restos de memórias e lembranças que te fazem sentir
Culpado de inocência, por deste mundo vontade teres de fugir

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