domingo, 22 de agosto de 2010

Vivência

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Vivo e esqueço-me que vivo
E vivo com uma vontade imensa
De me tornar um ser que pensa
Porque sei que não penso ainda
Inunda-me a ingenuidade e não finda
E a ignorância que é viver
E a incapacidade de se ser

Sei e sei-o bem, que não sei
Que não sei o que é viver
Viver verdadeiramente
Sentir como quem sente e não mente
Saber e ter o poder de dizer
Que vivi e vivo para contar
Os segredos das pedras espinhadas
Que me magoaram já enfeitiçadas

Que me digam que não sei
Que não sei o que é a vida
Nem o que hei-de fazer dela
Talvez não saiba mas duvida
Que um dia poderei dizer
Fui feliz porque soube viver

Não é só porque mais anos tem
Que do tronco soube fazer a porta
Pois quem tem serra que não corta
Não faz do mal já feito, nada bem
Vivendo assim da árvore morta
Estagnado e a perecer continua
A lutar para que encontre o sentido
De uma vida que vive de uma alma nua

Escrevo nas folhas da inexperiência
As palavras da razão por que escrevo
Enquanto procurando no duro chão
Tento encontrar o esperado trevo
Que me dará a linha e guiará
O pesado comboio que anda a carvão
E que anda sem emoção em linhas perdidas
Linhas que por mim, hoje, são vividas
Perdurando sempre a vontade
De um dia valorizarem a minha idade.

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