sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Outono

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Outono, como lúgubre acentas
E como tristemente apareces
Para rasgar o verde e a luz
O verde das paisagens que agora apodreces
A luz que agora fraca dá-te vida
Dá-te a verdadeira razão de seres assim
Que logo nascendo faleces por fim

Outono que fazes mudar e adormecer
As plantas que a ti obdecem
Terei eu o mesmo que elas fazer
Só porque és dono de nome
De alguém a quem os sorrisos esquecem?

Símbolo de desprezo és
Para quem não quer ser outro
Para quem consigo mesmo
Vive por si e não a teus pés
E vivem sem depender dessa mudança
Que obrigas a viver mesmo sem esperânça
Teus discipulos e obdientes seguidores
Leitores da tua biblia, pobres sem herança
Herança essa que não chega
Se por ela não fizerem nada
Herança que advém de vós
Se aí estiver enraizada
Mas se em vós não brota da nascente
A água própria que vos muda
Então sereis servis mediúcres do outono
Sem alma fertil que vos acuda

Força exterior maior que a de dentro
Uma realidade – é verdade
Mas a vós que vos deixais levar
Pela morte que vos nega o próprio andar
Deixai que vos diga minha interna fadiga
Por tentar perceber tal fracaço
Que leva a árvore a caír no espaço
Onde sómente apodrecerá sozinha.
Triste outono que em vós caminha!

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