quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Conta-me

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Conta-me mãe os meus segredos de criança
Conta-me o que fazia quando nem o mundo via
E apenas o conhecia quando caía sem esperança
De me levantar sem dor ou sem sangue
Esperando o ardor passar com o ténue sopro
E o rasgar das calças a mãe não zangue;

Conta-me mãe as asneiras que eu fazia
Os momentos de azia que me faziam chorar
E as horas que eu passava no sozinho dia
A tentar brincar acompanhado de mim só
Fazendo da sujidade o meu refugiado estar
Em que só o mexer da terra já era brincar;

Lembra-me mãe as memórias que perdi
Recorda-me a infância que até eu já esqueci
Triste culpa da minha frágil ingenuidade
Que vergonhas e maus passares me fêz viver
Rindo-se na minha cara da própria infelicidade
De uma criança que é obrigada a crescer;

Leva-me mãe ao passado por mim guardado
Na profunda gaveta do meu esquecimento
Nos confins da obscuridade plena e serena
Das águas calmas, minha integridade suprema
Que não perturbada guarda os meus segredos
Acontecimentos passados, ultrapassados medos;

Conta-me mãe a pobreza em que vivia
Conta-me o que sofria por não poder ter
O que nos outros via e eu também queria ser
Feliz como eles, crianças que nunca lutaram
Cheios como eles, os outros que ganharam
Se calhar sei tudo isto, mas mãe… conta-me!

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